segunda-feira, 21 de junho de 2010

Se por um instante

E eis que, mais num momento me encontro, e por momento esse, por coincidência e até por mera curiosidade, visitei o quarto do meu insano colega Tiago, por inquietude fui reler os poemas com que provavelmente ele revê a sua mente, e com que reveste sua porta da camisaria e trouxa de roupa que ali guarda. Houve logo um de principio que me despertou a atenção, por ser o maior, e por estar disposto de um particular relevo, centrado perante o rodeio de todos os outros. Comecei por reparar nos autores que ali se encontravam, quase todos portugueses, e muitos até são heterónimos da nossa Grande Pessoa, li alguns pedaços, daqui dali, acolá, ora em cima ora em baixo, mas não conseguia desviar a atenção daquele que já me havia despertado interesse, como gosto de deixar sempre o melhor para ultimo, e para assim sobressair sempre uma melhor apreciação das coisas, comecei por ler, algo de um autor que seu nome já se havia entoado no meu ouvido, mas que da obra conheço muito pouco, com vocês partilho.... "Se por um instante..."

“Se, por um instante,
Deus se esquecesse de que sou uma marioneta
de trapo e me presenteasse com um pedaço de vida,
possivelmente não diria tudo o que penso, mas,
certamente, pensaria tudo o que digo.
Daria valor as coisas, não pelo que valem,
mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais,
pois sei que a cada minuto que fechamos os olhos,
perdemos sessenta segundos de luz.
Andaria quando os demais parassem,
acordaria quando os outros dormem.
Escutaria quando os outros falassem e
gozaria um bom sorvete de chocolate.
Se Deus me presenteasse com um pedaço de vida,
vestiria simplesmente, me jogaria de bruços no solo,
deixando a descoberto não apenas meu corpo, como minha alma.

Deus meu, se eu tivesse um coração,
escreveria meu ódio sobre o gelo e esperaria que o sol saísse.
Pintaria com um sonho de Van Gogh sobre
estrelas um poema de Mario Benedetti e uma
canção de Serrat seria a serenata que ofereceria a Lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para
sentir a dor dos espinhos e o encarnado beijo de suas pétalas.

Deus meu, se eu tivesse um pedaço de vida.
Não deixaria passar um só dia sem
dizer as gentes - te amo, te amo.
Convenceria cada mulher e cada homem que
são os meus favoritos e viveria enamorado do amor.
Aos homens, lhes provaria como estão
enganados ao pensar que deixam
de se apaixonar quando envelhecem, sem saber
que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança, lhe daria asas,
mas deixaria que aprendesse a voar sozinha.
Aos velhos ensinaria que a morte não
chega com a velhice, mas com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, os homens...
Aprendi que todo mundo quer viver no cimo da montanha,
sem saber que a verdadeira felicidade esta na forma de subir a escarpa.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta
com sua pequena mão pela primeira vez o dedo de seu pai,
o tem prisioneiro para sempre.
Aprendi que um homem só têm o direito de olhar um
outro de cima para baixo para ajuda-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês,
mas, finalmente, não poderão servir muito
porque quando me olharem dentro dessa maleta,
infelizmente estarei morrendo.”


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